A atividade leiteira como a grande maioria deve saber, é de extrema importância na economia do país e a base do sustento de aproximadamente 1,2 milhões de produtores em todo o território nacional. Ela tem uma força econômica muito grande, apesar disso, praticamente todos os anos a gente vê no noticiário que o setor está em crise, preço pago ao produtor muito baixo e os custos de produção muito elevados. Isso geralmente acontece quando a produção nacional aumenta (verão no Sul e na estação das águas no centro do país), lei da oferta e procura. Aumenta a oferta de produto no mercado e o preço baixa. Nos últimos anos, além disso, a situação favorável do câmbio permitiu a compra de leite em pó no mercado externo, fazendo entrar um produto mais barato que o nosso no mercado, reduzindo os preços.

 

Entre os produtores, muita gente reclama, posta comentário nas redes sociais, fazem protestos e manifestações do absurdo deste tipo de jogada do mercado para controlar o preço do leite e penalizar o produtor, e que deveríamos ter uma política de preço mínimo, certo? Tenho que dizer para vocês: sejam bem-vindos ao mundo globalizado! Podemos ter algumas modificações nas transações de importação e exportação no pós-pandemia, mas a tendência disso é só aumentar.

 

Então, quer dizer que a atividade leiteira está fadada ao fracasso, ainda mais com a alta nos preços do concentrado? Absolutamente não! Atividade leiteira é um EXCELENTE NEGÓCIO e isso podemos dizer com muita experiência no assunto, pois hoje a SIA atende mais de 15 mil vacas em lactação, com uma produção diária de mais de 29 mil litros de leite por dia, em propriedades dos mais diversos tamanhos, produções e sistemas de produção (confinados e a pasto). O que muita gente esquece quando analisa o negócio leite, é que o sucesso na atividade passa pela gestão. Que devemos tratar a atividade como uma empresa, como outra qualquer da cidade, e que devemos monitorar e controlar os custos de produção. Nos preocuparmos com aquilo que conseguimos controlar, que são as coisas que acontecem dentro da porteira.

 

Dentre todas as propriedades que trabalhamos, uma das coisas que mais impacta nos custos de produção, são os custos com alimentação. O grande segredo para ser competitivo na atividade é produzir comida de qualidade, com um baixo custo. E essa regra serve para todos os sistemas de produção, tanto os confinados (free stall ou compost barn), quanto os sistemas a pasto. Ok, até aqui nenhuma grande novidade. Você deve estar se perguntando, como faço isso?

 

SISTEMAS CONFINADOS

Nos sistemas confinados, vemos uma grande preocupação no controle das ações que acontecem dentro da instalação, com foco muito grande nos animais, nas vacas em lactação (ajuste de dieta, reprodução, sanidade), mas se esquece muito do entorno, que são as áreas para a produção de alimento, basicamente volumoso, a silagem. Na grande maioria, vemos sistemas pouco diversificados, com muito monocultivo. Milho em cima de milho, safra e safrinha, sem um plano de rotação de culturas…isso empobrece o solo, diminuindo a produção de matéria seca por hectare ou demandando muito mais investimento de adubação para se produzir a mesma coisa, ou seja, alto custo para produção de alimento. Sistemas confinados exigem um nível de gestão muito mais elevado, além de ser um bom nutricionista, é preciso ser um bom agricultor, com práticas conservacionistas para ter um solo com vida e as plantas responderem em produção.

 

SISTEMAS A PASTO

Quando falamos de sistemas a pasto, muita gente não acredita muito que é possível ser competitivo neste modelo e na grande maioria das vezes ele é associado ao uso de baixa tecnologia. Isso não é verdade! O que acontece é que a maioria das pessoas compara coisas diferentes, pegam um sistema confinado com alto investimento e comparam com um sistema a pasto com baixo investimento.

 

Questiono vocês: qual sistema tende a dar mais resultado? Pra mim, a resposta chega a ser óbvia! Para ter sucesso em um sistema a pasto é preciso seguir as três regras abaixo:

  • Ter pastagens de alto padrão, com muitas folhas de alta qualidade (investimento em adubação);
  • Colher bem os pastos produzidos, onde as vacas só comem as pontas de folha (na SIA usamos o Pastoreio Rotatínuo, veja mais neste link: www.youtube.com/watch?v=2IBhJJ318bc).
  • Ter uma produção de bem escalonada destas folhas ao longo do ano, com ao menos três espécies diferentes (planejamento forrageiro)

 

A base da alimentação nestes sistemas tem que vir do pasto e o complemento e ajuste desta dieta é feito no cocho. Muita gente diz que até faz boas pastagens, mas as vacas não comem muito, que as vacas que não gostam de pastar. O que acontece é que na grande maioria dos casos, as vacas acessam os pastos nos horários mais quentes do dia e com a barriga cheia de silagem e concentrado. Aí não existe receita milagrosa que faça elas comerem o pasto, por melhor que ele seja.

 

Conseguindo colocar os três pontos citados em prática, temos uma produção de alimento em grande quantidade ao longo do ano (ou na grande parte dele, quando falamos de Brasil Central) de alimento riquíssimo em proteína, a um custo extremamente baixo. Temos uma força econômica muito forte, que dá muita competitividade para a atividade leiteira, pois o nutriente mais caro nas dietas tradicionais a base de silagem e ração, a proteína, grande parte dela vem do pasto. O desafio nestes sistemas passa a ser ajustar a energia, muito mais barata, e com mais fontes alternativas, além do milho grão e grão úmido, temos sorgo, casquinha de soja, farelo de trigo, aveia e etc.

 

“RACHAR DE GANHAR DINHEIRO”

Temos inúmeros cases de propriedades (pequenos, médios e grandes rebanhos) que conseguiram implementar estas três regras do sistema a pasto, que trabalham com vacas comendo 60 a 70% da dieta vinda do pasto, fornecendo no cocho 10kg de silagem mais 3 a 4 kg de concentrado com 14% de proteína. Um custo de produção total (fixos e variáveis, com folha salarial dos funcionários + pró-labore; preços atuais de junho de 2020), próximos a R$ 1,00/litro. Ou seja, nos períodos ruins uma propriedade dessas ganha dinheiro e nos períodos bons racha de ganhar dinheiro. Assim, chamamos de montar “uma máquina de ganhar dinheiro”.

 

Claro que colocar essas técnicas em prática, tanto nos sistemas confinados quanto nos sistemas mais a pasto, não é nada simples. Não é da noite para o dia que se constrói e o pior de tudo: não existe uma receita pronta. Porém, com um planejamento bem feito, uma boa gestão de indicadores, um acompanhamento técnico que passe os caminhos das pedras, o trabalho duro e diário (disso nunca iremos escapar em qualquer área), é bem possível de ser competitivo, baixar os custos de produção, dar menos importância ao preço do leite e construir a sua própria máquina de ganhar dinheiro.

 

Texto: Armindo Barth Neto – Consultor técnico SIA

Imagens: Arquivo SIA